ANDRADE,
Oswald de. O manifesto da Poesia Pau-Brasil. In:
TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda européia e modernismo brasileiro:
apresentação e crítica dos principais manifestos vanguardistas. 3ª ed.
Petrópolis: Vozes; Brasília: INL, 1976.
BOSI,
Alfredo. História concisa da Literatura Brasileira. 36ª
edição. São Paulo: Cultrix, 1999.
Karine Macêdo
Freitas
"Manifesto da Poesia Pau-Brasil": Por um Brasil mais brasileiro
Nascido no ano de 1890, na
cidade de São Paulo, Jóse Oswald de Andrade realizou seus primeiros estudos no
Ginásio de São Bento, formando-se em Direito, em 1919. Poeta, romancista e
dramaturgo via as ideias futuristas com bons olhos, e é até hoje considerado um
revolucionário que defendia os propósitos inovadores da pintura expressionista
de Anita Malfatti e que participou intensamente da Semana de Arte Moderna. Graças
à publicação, em 1925, do volume de poesias Pau-Brasil, inicia o grupo
modernista de mesmo nome.
Oswald de Andrade é um dos maiores espíritos do
Modernismo brasileiro que “representou
com seus altos e baixos a ponta de lança do ‘espírito de 22’ a que ficaria
sempre vinculado, tanto nos seus aspectos felizes de vanguardismo literário
quanto nos seus momentos menos felizes de gratuidade ideológica” (BOSI, 1999, p. 356). Sua participação no movimento funcionava
como inspiração aos demais, principalmente por ser aquele que propõe uma nova
visão sobre a forma de produzir uma literatura brasileira.
Dessa forma, com a publicação de “Manifesto da Poesia Pau-brasil” (1924), Oswald de Andrade esboça sua
percepção sobre a necessidade de se representar a realidade, tal como é, diante
disso, afirma que “a poesia existe nos fatos”. Ele visa chamar atenção para a poesia
originalmente brasileira, que busca a inspiração na paisagem e da cultura do
Brasil. Seu discurso promove uma reflexão sobre um modelo de identidade cultural
brasileira, uma identidade que se formaria por processos resultantes dos
entrelaçamentos de culturas.
Seu “Manifesto da Poesia Pau-Brasil” funciona como um alerta
para o exercício da auto-conscientização pela população brasileira, já que esse
não era nem de longe o objetivo da literatura na época. O autor utiliza uma linguagem simples que estava em conformidade com a linguagem da
vanguarda europeia, mas uma língua que deveria ser uma “/língua
sem arcaísmos/ sem erudição/ Natural e neológica/ A contribuição milionária/ de
todos os erros/ Como falamos/ Como somos” (OSWALD, 1924).
Em
outro momento do manifesto, onde o autor fala: “/O lado doutor/ o
lado citações/ o lado autores conhecidos/. Comovente”, contribui para
compreender a oposição do autor frente a uma linguagem “não totalmente
brasileira”, ao passo que alerta sobre a existência de outra linguagem, tão
mais significativa, a linguagem usada pelas pessoas no dia-a-dia, a linguagem
das ruas, a linguagem brasileira do cotidiano.
É possível observar ainda que “Manifesto da Poesia Pau-Brasil” comporta todas das características da primeira etapa do movimento modernista, além da linguagem simples, o autor nega o racionalismo burguês, denuncia a influência das vanguardas europeias,
assim como um forte sentimento de nacionalismo ufanista e nacionalismo crítico,
como por exemplo, ao citar elementos da cultura brasileira, como o carnaval, o
sabiá, a hospitalidade, índios, e o próprio Pau-Brasil. Tudo isso através da
relação entre prosa e poesia, bem como a utilização de versos livres.