segunda-feira, 23 de novembro de 2015

ANDRADE, Oswald de. O manifesto da Poesia Pau-Brasil. In: TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda européia e modernismo brasileiro: apresentação e crítica dos principais manifestos vanguardistas. 3ª ed. Petrópolis: Vozes; Brasília: INL, 1976.

BOSI, Alfredo. História concisa da Literatura Brasileira. 36ª edição. São Paulo: Cultrix, 1999.

 Karine Macêdo Freitas

"Manifesto da Poesia Pau-Brasil": Por um Brasil mais brasileiro 

Nascido no ano de 1890, na cidade de São Paulo, Jóse Oswald de Andrade realizou seus primeiros estudos no Ginásio de São Bento, formando-se em Direito, em 1919. Poeta, romancista e dramaturgo via as ideias futuristas com bons olhos, e é até hoje considerado um revolucionário que defendia os propósitos inovadores da pintura expressionista de Anita Malfatti e que participou intensamente da Semana de Arte Moderna. Graças à publicação, em 1925, do volume de poesias Pau-Brasil, inicia o grupo modernista de mesmo nome.



Oswald de Andrade é um dos maiores espíritos do Modernismo brasileiro que “representou com seus altos e baixos a ponta de lança do ‘espírito de 22’ a que ficaria sempre vinculado, tanto nos seus aspectos felizes de vanguardismo literário quanto nos seus momentos menos felizes de gratuidade ideológica” (BOSI, 1999, p. 356). Sua participação no movimento funcionava como inspiração aos demais, principalmente por ser aquele que propõe uma nova visão sobre a forma de produzir uma literatura brasileira. 
Dessa forma, com a publicação de “Manifesto da Poesia Pau-brasil” (1924), Oswald de Andrade esboça sua percepção sobre a necessidade de se representar a realidade, tal como é, diante disso, afirma que “a poesia existe nos fatos”. Ele visa chamar atenção para a poesia originalmente brasileira, que busca a inspiração na paisagem e da cultura do BrasilSeu discurso promove uma reflexão sobre um modelo de identidade cultural brasileira, uma identidade que se formaria por processos resultantes dos entrelaçamentos de culturas. 
Seu “Manifesto da Poesia Pau-Brasil” funciona como um alerta para o exercício da auto-conscientização pela população brasileira, já que esse não era nem de longe o objetivo da literatura na época. O autor utiliza uma linguagem simples que estava em conformidade com a linguagem da vanguarda europeia, mas uma língua que deveria ser uma “/língua sem arcaísmos/ sem erudição/ Natural e neológica/ A contribuição milionária/ de todos os erros/ Como falamos/ Como somos” (OSWALD, 1924).
Em outro momento do manifesto, onde o autor fala: “/O lado doutor/ o lado citações/ o lado autores conhecidos/. Comovente”, contribui para compreender a oposição do autor frente a uma linguagem “não totalmente brasileira”, ao passo que alerta sobre a existência de outra linguagem, tão mais significativa, a linguagem usada pelas pessoas no dia-a-dia, a linguagem das ruas, a linguagem brasileira do cotidiano.

É possível observar ainda que “Manifesto da Poesia Pau-Brasil” comporta todas das características da primeira etapa do movimento modernista, além da linguagem simples, o autor nega o racionalismo burguês, denuncia a influência das vanguardas europeias, assim como um forte sentimento de nacionalismo ufanista e nacionalismo crítico, como por exemplo, ao citar elementos da cultura brasileira, como o carnaval, o sabiá, a hospitalidade, índios, e o próprio Pau-Brasil. Tudo isso através da relação entre prosa e poesia, bem como a utilização de versos livres.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Poesia-provocação: a poesia Pau-Brasil

Alana Yasmim dos Santos

           Atualmente, o termo manifestação está presente cotidianamente na nossa vida. Desde 2013, no Brasil, diversas manifestações ocorreram nas ruas das cidades brasileiras, em sua maioria por motivações sócio-políticas. Manifestação se difere de manifesto, aquela é uma ação reivindicatória de um grupo de pessoas, ao passo que este é um texto de caráter persuasivo que visa declarar uma opinião, um pensamento, um ponto de vista. Mas ambas possuem uma mesma raiz: manifestar é tornar visível e público; manifestar é conquistar um espaço. Manifestar (intenções, desejos, pontos de vista) é algo que o ser humano faz a bastante tempo, é só recordarmos do Manifesto Comunista escrito em 1848 por Karl Marx e Friedrich Engels, do Manifesto Anarquista escrito em 1850 por Anselme Bellegarrigue ou do Manifesto Futurista, de 1909, escrito por Filippo Tommaso Marinetti.

            No Brasil, o Manifesto da poesia Pau-Brasil, escrito por Oswald de Andrade em 1924, é um reflexo de como os escritores, poetas e artistas brasileiros estavam insatisfeitos com as bases estéticas provenientes do povo europeu. Em oposição a poesia elitizada e rebuscada, Oswald escreve que a “poesia existe nos fatos”, ou seja, nos fatos vivenciados no dia a dia brasileiro. O cotidiano seria palco do fazer poético, e a poesia iria se revelar inovadora, popular e natural. No início do manifesto, Oswald traz o cenário-inspiração do Brasil: os casebres, as favelas, a vegetação, o carnaval, as diversas etnias, o minério, as comidas e as danças. “Pra me inspirar/ Abro a janela” escreveu Oswald de Andrade na poesia Balada da Esplanada. Ou seja, a poesia estava logo a frente, nos acontecimentos diários, nos objetos comuns, nos lugares conhecidos, nas pessoas ao redor: “Há poesia/ Na dor/ Na flor/ No beija-flor/ No elevador”. O espaço-diário era espaço-poético.

            Nos campos infestados pelo conhecimento importado e da esmiuçada arte europeia – o clássico, o alheio, o externo – em terra brasileira: precisaria persistir a poesia brasileira sob olhar europeu? Eis, então, a proposta de um fazer poético sobre o habitual, o cotidiano, o primitivo brasileiro. A poesia Pau-Brasil é, primeiramente, provocativa. Provocar o pensamento estético dos artistas [e estático no modus operandi europeu] do Brasil é o que queria Oswald manifestar em março de 1924. Era preciso escrever o Brasil sob o olhar original do começo do século XX, acompanhado do vocabulário e simplicidade do dia a dia. “Ver com olhos livres” disse Oswald como crítica à fórmula, aos métodos, às amarras estéticas. A poesia antiacademicista de Oswald de Andrade valorizaria a oralidade, os versos livres, as palavras do cotidiano e o abandono das pontuações. Ler uma poesia modernista é redescobrir a língua portuguesa. Oswald compara a poesia Pau-Brasil a uma criança, pela sua agilidade e candura, pela sua vivacidade. O poeta modernista, também, como uma criança, iria manusear as palavras sem medo, sem limitações, com a liberdade própria do ato criativo, com a curiosidade nata da infância. Entretanto, a poesia Pau-Brasil não era menos elaborada ou inferior aos engessados e rebuscados versos da poesia parnasiana, por exemplo, como muitos podem pensar pela simplicidade poética. A busca da poesia em palavras não-poéticas era uma forma de mostrar que era possível encontrar poesia em qualquer lugar, demonstrando que a linha que separava a poesia do cotidiano não era tão profunda assim.

            Poema-experimento, poema-cotidiano, poema-primitivo, poema-ironia, poema-surpresa: poesiaS. O plural é o que caracteriza o Brasil: retratoS do Brasil feitos com câmeras fotográficas produzidas no Brasil, revelados no Brasil, expostos no Brasil e exportados para o mundo. "Exporta-te, Brasil!" É o que Oswald manifestava. A poesia Pau-Brasil deveria ser exportada, assim como a madeira advinda do Pau-Brasil foi. Poesia-exportação.

[Morro da Favela - 1924 | Tarsila do Amaral]


MANIFESTO DO PAU BRASIL DE OSWALD DE ANDRADE

                                                                                   Francisco Brunno Carvalho Reis

       Com o advento da estética modernista, esta sendo caracterizada pela Semana de Arte Moderna de 1922. Tal movimento pregava o fim do poderio europeu no tocante a língua portuguesa, e esta teria que emancipar-se e ter autonomia e ser a metáfora do povo brasileiro.
O modernismo pregava a não-linearidade das palavras, ou seja, a sintaxe tão bem rígida não era empregada na estética moderna, a ordem das palavras de forma direta também não. A escolha das palavras e do vocabulário são escolhidas de acordo com a vontade e pena do escritor.
Configura-se, desse modo, que o Manifesto do Pau Brasil, escrito por Oswald de Andrade, durante a primeira fase do Modernismo, cujo escritor, também, pertence a tal fase, foi feito com a finalidade de retratar esse momento moderno. O Manifesto foi publicado em 1924 e tinha como características o primitivismo e o nacionalismo, por isso o nome ser Manifesto do Pau Brasil, uma vez que ele metaforiza a ideia de que o Pau Brasil foi o primeiro produto brasileiro exportado para o Brasil com alto teor de qualidade. E assim deveria ser em todos os aspectos, ou seja, a cultura, a economia, pois as “coisas” brasileiras deveriam ser exportadas e cm elas a sua qualidade.
Mais especificamente falando, uma dessas preciosidades brasileiras que deveria ser exportada seria, portanto, a língua portuguesa. Esta com seu modo peculiar de ser escrita deveria ser divulgada com suas características gerais, no tocante aos seus aspectos estruturais, e nos seus aspectos originais, como por exemplo, demonstrando a fala e escrita do povo brasileiro, daí ter-se a sua originalidade e primitividade.
Concretiza-se, assim, com esta parte do Manifesto que segundo qual “A poesia Pau-Brasil. Ágil e cândida. Como uma criança. ” Comenta-se o caráter originário e primitivo da mesma e que possuía, já, a necessidade de ser divulgada em outro país.
A atitude de Oswald de Andrade com a publicação do Manifesto o Pau Brasil foi em consonância com o que representava a estética moderna. Ao se preocupar com o valor da cultura, e consequentemente da língua brasileira, podemos visualizar que Oswald queira que a nossa língua fosse autônoma e reconhecida pelo mundo a fora com características e peculiaridades que lhe é própria, à moda do povo brasileiro.
Podemos afirmar, depois de todo o comentário que, a produção literária e linguística oswaldiana reforça e centraliza as questões iniciadas no começo do século XXI. Pois além de tal produção, as ideias e pensamentos por ele corroborados afirmam a dialética moderna.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

MANIFESTO DA POESIA PAU-BRASIL

               Para iniciar nossas discussões acerca do Modernismo no Brasil, vamos começar com uma breve apresentação sobre o Manifesto da Poesia Pau-Brasil. Você pode ter acesso ao texto completo de Oswald de Andrade no seguinte link: http://www.ufrgs.br/cdrom/oandrade/.
          Mantendo o espírito de renovação cultural, que domina as ideias expressas na Semana de Arte Moderna de 1922, bem como o desejo de produzir uma arte literária que represente o Brasil e o povo brasileiro, Oswald de Andrade escreve e publica, em 1924, o “Manifesto da poesia pau-brasil”, destacando no texto a necessidade de que se produza uma arte genuinamente brasileira, que tenha como foco não apenas a cópia dos modelos europeus, mas, sim, uma arte que possa transmitir aquilo que caracteriza o Brasil.
   Sugere-se, desse modo, o início da absorção crítica da produção artístico-literária modernista europeia; busca-se a discussão sobre a consciência nacional por meio da construção de uma poesia que seja ao mesmo tempo ingênua e primitiva, erudita e popular.



             Há no texto a crítica ao arcaísmo e à poesia academicista, longe da realidade e dos problemas sociais, fruto de uma arte poética exportada. O manifesto aponta, assim, o caminho para uma nova criação, caracterizada pela “língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos.” Defende-se que a arte literária brasileira já não precisava manter-se fiel aos modelos europeus, podendo dedicar-se a construir a imagem do Brasil como ele é, e ser a nossa produção também uma arte de exportação.


            No decorrer do texto, Oswald de Andrade também provoca o leitor a pensar em uma arte que seja reacionária, não apenas mecânica, visual e distante, como aparecia no Parnasianismo ou Naturalismo. Diversas vezes o autor enfatiza o termo Pau-Brasil, destacando que essa poderia ser a expressão definidora da nova poesia que se deseja construir, do mesmo modo, relaciona com a ideia da arte literária brasileira como produto de exportação. O cerne da produção literária nacional poderia ser a originalidade, fundamentada em especial pela busca e construção de uma poesia pura e nacional.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Apresentação, ou sobre a função do Blog.

Este Blog é uma revista virtual produzida pelos alunos da turma de Literatura Nacional V - Modernismo, da graduação de Letras Português e Letras Português / Francês da Universidade Federal do Piauí, sob a orientação do Professor Dr. Saulo Brandão.





Aqui você acompanhará nossos estudos em forma de resenhas, ensaios, vídeos, imagens e discussões sobre nossas inquietações em relação aos textos trabalhados em sala, referentes ao Modernismo no Brasil. Fique à vontade para colaborar conosco com suas ideias e sugestões, ótima leitura!

Como sugestão da nossa primeira leitura, propomos Macunaíma (1928), de Mario de Andrade. Vamos lá?!